Empresas e terceiro setor buscam entendimento sobre questões florestais
Representantes de empresas do setor de base florestal e de organizações ambientalistas de todo o país participaram, de 25 a 27 de agosto, em Itu (SP), do 7º. Encontro Nacional do Diálogo Florestal. O evento é parte da iniciativa que busca facilitar a interação e o posicionamento conjunto sobre questões importantes para o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental no Brasil.
Reconhecido como um dos segmentos do agronegócio nacional que cumprem a legislação ambiental em vigor, a indústria de base florestal inclui companhias destinadas ao plantio florestal, à produção de papel, celulose e outros produtos derivados de florestas plantadas.
“Historicamente antagônicos, empresas e organizações socioambientais se descobriram parceiros devido às grandes extensões de áreas naturais existentes nas terras das empresas do setor”, explica Giovana Baggio, secretária executiva interina do Diálogo Florestal. Estima-se que, em todo o Brasil, cerca de 2 milhões de hectares de áreas naturais estejam sob os cuidados do setor de base florestal.
Funcionando de forma descentralizada desde 2008, o Diálogo possui sete fóruns regionais de interlocução entre empresas e ONGs (veja abaixo os principais destaques de cada fórum e os depoimentos de alguns dos representantes). Por meio dos fóruns regionais, o movimento busca melhorar a relação entre os profissionais dos dois setores e também entre plantios florestais, comunidades locais e biodiversidade.
“Essa interação para discutirmos os assuntos mais inquietantes nos leva a pontos em comum, a partir dos quais podemos atingir o que todos nós estamos procurando, que é a melhoria das questões sociais e ambientais ligadas às florestas no Brasil”, destaca Ivone Namikawa, da área de Sustentabilidade Florestal da Klabin SA.
O evento foi a primeira oportunidade de reunião de membros dos fóruns regionais para a troca de experiências e a revisão dos objetivos estratégicos do movimento. Entre os resultados do diálogo, destaca-se a indicação de que os participantes pretendem fazer uma avaliação conjunta para revisão do Código Florestal Brasileiro. “Ao cumprir o Código Florestal Brasileiro, respeitando áreas de preservação permanente e de reserva legal, as empresas de base florestal dão o exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento econômico e conservação dos recursos naturais”, diz Carlos Alberto Mesquita, diretor executivo do Instituto BioAtlântica.
Com o intercâmbio de dados e informações entre empresas e ONG, os fóruns regionais buscam a implantação das estratégias conjuntas de conservação da biodiversidade. “A criação de corredores ecológicos e de mosaicos florestais, combinando áreas nativas e monoculturas, são estratégias benéficas às plantações florestais”, diz João Carlos Augusti, gerente de Meio Ambiente Florestal da Fibria Celulose.
O 8º. Encontro Nacional do Diálogo Florestal deve ocorrer em 2011.
Destaques dos fóruns regionais
Extremo Sul da Bahia
Primeiro fórum regional a ser estabelecido, o do Extremo Sul da Bahia é o que apresenta mais avanços até o momento. Até setembro deste ano, as empresas da região divulgarão os resultados do monitoramento do cumprimento das diretrizes para fomento florestal, por meio das quais elas se obrigaram a garantir que os proprietários rurais por elas fomentados também respeitam a legislação ambiental e outros princípios estabelecidos em conjunto.
A criação de uma cooperativa de reflorestadores de Mata Atlântica, a Cooplantar, e os esforços para substituição do uso de madeira nativa por madeira de eucalipto para fabricação de artesanato regional são outros dois resultados importantes deste fórum, que também avançou significativamente na tentativa de afastar os plantios florestais das áreas urbanas e comunidades rurais da região.
Paraná e Santa Catarina
A implantação de um projeto-piloto de conservação e restauração de Mata Atlântica associado aos plantios florestais é o principal esforço em andamento neste fórum. O grupo também está iniciando a aplicação em campo das diretrizes para fomento florestal, como já realizado na Bahia. A elaboração de estratégias para reduzir os altos índices de desmatamento na região e evidenciar a importância da preservação dos remanescentes florestais também está na pauta do fórum, que realiza, dia 16 de setembro, um seminário regional para divulgar suas atividades.
São Paulo
Composto por representantes de organizações e empresas de portes bastante variados, o fórum paulista escolheu duas áreas prioritárias de atuação: bacia do Alto Paranapanema e bacia do Paraíba do Sul. Em cada região, foram selecionadas microbacias onde há atuação direta das empresas de base florestal, como as dos rios Paraitinga e Santo Inácio. Os participantes do fórum estão validando internamente em suas instituições as diretrizes socioambientais e para fomento florestal já elaboradas no âmbito do fórum. Estas devem ser assumidas pelo setor em todo o estado. O grupo pretende colaborar na elaboração do zoneamento estadual da silvicultura e na construção da política pública para a aplicação diferenciada dos recursos do ICMS não apenas nos municípios que possuem plantas industriais, mas também nos que estão ocupados com áreas de plantios florestais.
Rio Grande do Sul
Estabelecido em um cenário marcado por conflitos entre o movimento ambientalista e o setor de base florestal, o fórum gaúcho está trabalhando na elaboração de uma estratégia que garanta que os recursos de compensação ambiental resultantes do programa de expansão de base florestal no estado sejam destinados para a criação e manutenção de unidades de conservação do bioma Pampa. Para isso, o fórum está reunindo estudos já realizados para definir as áreas de mais relevante interesse ambiental nas regiões de atuação dos projetos florestais. O grupo tem como um dos principais desafios a construção de uma agenda em comum com a sociedade para discutir como o setor pode favorecer a conservação e manutenção de remanescentes de vegetação importantes no estado.
Rio de Janeiro
Criado em antecipação à iminente chegada da silvicultura de larga escala no estado, este tem sido um fórum privilegiado para a troca de informações entre a iniciativa privada, o poder público, a academia e a sociedade civil. Entre seus principais resultados está o decreto estadual que regulamenta a silvicultura em propriedades pequenas e médias no estado. O fórum vem trabalhando para apoiar o governo estadual no estabelecimento de um programa de adequação ambiental de propriedades rurais, além de ter contribuído para a validação do zoneamento econômico ecológico do Rio de Janeiro, elaborado pelo poder público estadual.
Minas Gerais
O fórum mineiro é o que possui maior diversidade de setores econômicos envolvidos, como papel e celulose, carvão, siderurgia e madeira bruta, envolvendo as maiores empresas desses setores no estado, onde o consumo de lenha e de carvão vegetal representa 33% da matriz energética. O principal avanço conquistado até o momento foi a divulgação de manifesto conjunto sobre plantações florestais, divulgado em dezembro de 2009. Nele, empresas e ONGs estabelecem compromissos importantes, como a não substituição de vegetação nativa por plantios e o compromisso claro com a proteção de biodiversidade no estado. Em seus próximos passos, o grupo pretende realizar reuniões itinerantes para envolver no fórum outros setores da sociedade em todo o estado.
Espírito Santo
Com uma grande área de silvicultura consolidada, o estado busca, com base nas experiências de fomento florestal, implantar um programa que promova as florestas como vetor de desenvolvimento regional sustentável. No município de Santa Teresa está sendo realizado o mapeamento do uso e ocupação do solo, com ênfase nas áreas plantadas com eucalipto, para elaboração de políticas públicas municipais de conservação da Mata Atlântica. Outro desafio é a elaboração de um projeto de desenvolvimento integrado na área do Corredor Ecológico Prioritário do Córrego do Veado, com o objetivo de desenvolver projetos de restauração, conectividade e conservação de fragmentos florestais nativos, com a participação das comunidades locais.
Depoimentos
“Nós abrimos toda a nossa área florestal para as ONG que têm a ideologia de preservar e melhorar a conservação, sem medo nenhum. Nós precisávamos desse entrosamento para a gente crescer nessa área, e esse é o futuro, essa visão de que nós realmente temos que ser transparentes para a sociedade”, conta Etsuro Murakami, diretor Florestal da Rigesa. “O ideal seria trazer todos os setores para o patamar do setor florestal que, através da Bracelpa, está buscando equilibrar os diversos pontos de vista existentes na sociedade”, diz Mário Mantovani, diretor de Mobilização da SOS Mata Atlântica.
“Estamos aqui por acreditar que só baseado no diálogo franco e aberto que ambas as partes irão demonstrar suas preocupações para chegarmos a um consenso em uma direção comum”, diz Sandro Morais, engenheiro químico da Cenibra. “O Diálogo Florestal está se tornando um espaço de diferenciação entre empresas socioambientalmente responsáveis ou não”, analisa Maria Dalce Ricas, superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). “O interessante é ver que as empresas concorrem entre si, mas cooperam também para a busca de soluções”, diz Elizabeth Lino, da área de Comunicação da Amda.
“Este encontro nacional foi importante para os participantes dos fóruns regionais entenderem a dimensão nacional do Diálogo”, comenta Juliana Griese, diretora executiva do Instituto Itapoty, de Itatinga (SP). “Espero que todas as ações prioritárias que foram escolhidas no encontro caminhem e gerem resultados concretos para a gente que está lá na base, na atuação local”, complementa.
“O movimento está ajudando muito nossa comunidade, porque a gente não tinha diálogo nenhum com a empresa que opera na nossa área” comenta Silvaneide Porto Santos, presidente da Associação de Mulheres Artesãs de Ponto Central, Santa Cruz Cabrália (BA). “O eucalipto era plantado muito próximo da comunidade e, por meio do fórum regional, foi decidido afastar da vila as áreas de plantio e ocupar as áreas desocupadas com agricultura familiar”, complementa.
Para a secretária de Meio Ambiente do município capixaba de Santa Teresa, Magaly Broseghini “o Diálogo está sendo muito importante para nossa região, principalmente pelo mapeamento das áreas de plantio de eucalipto, o que permitirá o zoneamento, o monitoramento e o direcionamento da silvicultura no município, de modo a evitar que sejam afetadas negativamente as outras culturas agrícolas, o desenvolvimento do turismo e a paisagem da região”.
“A democracia, o diálogo e a confiança são a melhor maneira de a gente chegar ao desenvolvimento sustentável”, comenta Elizete Siqueira, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto de Pesquisa da Mata Atlântica (Ipema), do Espírito Santo.
Mais informações e imagens do evento
Thadeu Melo, (21) 9464-5038 ou thadeu@bioatlantica.org.br