Diálogo do Uso do Solo inspira curso de especialização em agroecologia
Construir ambientes de confiança e proporcionar o engajamento entre lideranças e atores locais, criar espaços para promover o debate, e, liderar processos que influenciam negócios responsáveis, melhorem a governança de territórios e promovam mudanças nas políticas públicas. Estes são alguns dos resultados esperados do Diálogo do Uso do Solo (LUD, sigla em inglês para Land Use Dialogue), uma metodologia que usa o diálogo como ferramenta para abordagens de paisagem aos desafios ambientais.
Em implementação na Amazônia e em diferentes regiões do Brasil, através do esforço dos integrantes dos Fóruns Florestais do Diálogo Florestal (DF), vale recordar que o primeiro LUD no Brasil ocorreu em 2016 no Alto Vale do Itajaí (AVI), em Santa Catarina, e definiu cenários e ações que permitiram melhorar a governança na região e a busca do desenvolvimento sustentável. A segunda etapa desse mesmo Diálogo veio um ano depois, em 2017, e teve como principal resultado a produção de um mapa com áreas prioritárias para a implementação de paisagens sustentáveis em 8 temas, que incluíam descrições de ações recomendadas, atores a serem envolvidos e prazos para implementação.
Luciane Costa, professora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), integra o Fórum Florestal PR e SC desde essa época, mas foi só em 2020 que ela se aproximou mais do escopo do LUD. “Tive a oportunidade de vivenciar uma capacitação sobre a metodologia do LUD promovida pelo Diálogo Florestal. Embora já usasse técnicas e metodologias participativas, foi a primeira vez que vi tantos atores reunidos, sobretudo um forte envolvimento do setor privado, que é fundamental, e isso chamou minha atenção”, informa Luciane.
A partir daí, a professora teve a ideia de inserir em suas aulas o compartilhamento da experiência brasileira e catarinense no uso do LUD para o planejamento do território. 29 alunos de pós-graduação do IFSC, de vários estados brasileiros (MA, MG, PA, PR, RJ, RS, SC e SP), formados em cursos relacionados à Ciências Agrárias e Ciências Biológicas, assistiram à aula teórica do Curso de Especialização em Agroecologia, na disciplina de Planejamento e Manejo no Uso do Solo, ministrado por Luciane.
“Normalmente os planejamentos dentro das ciências agrárias, limitam-se à capacidade de uso do solo para fins produtivos, desconsiderando todos os demais serviços ecossistêmicos que o território proporciona”, comenta Luciane. Nesse contexto, a aula teórica explicou o histórico do LUD, seus princípios, suas vantagens, seus desafios e principalmente, a importância da formação de profissionais aptos para fomentar o diálogo, usar tecnologias em várias escalas, e, olhar a paisagem e seus usuários com critérios sociais, econômicos e ambientais. Além disso, foi disponibilizado aos alunos o acesso ao Guia do LUD, publicação lançada em 2020 que compartilha os principais elementos da metodologia e apresenta formas de trabalhar as soluções através de uma visão da paisagem.
Para a convidada da aula, a bióloga Edilaine Dick, Coordenadora de Projetos da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), organização que ajudou a liderar a implementação do LUD no AVI, um dos fatores que impedem um melhor impacto territorial, especialmente em termos de questões de desmatamento e alterações no uso do solo, é a falta de um diálogo construtivo. “Formar profissionais que nos ajudem a criar espaços de diálogo como base para explorar e conciliar perspectivas de diversas partes interessadas é fundamental”, comenta Edilaine.
Fernanda Rodrigues, Secretária Executiva do Diálogo Florestal no Brasil e líder global da iniciativa LUD no âmbito do The Forests Dialogue, relembra que um dos objetivos e metas do Diálogo Florestal até 2022 é assegurar a participação e a interação do Diálogo com instituições de ensino e pesquisa no Brasil, em especial nas áreas de abrangência dos Fóruns Florestais e territórios estratégicos. “Essa aproximação com o IFSC é fundamental para trazer as contribuições e visões do meio acadêmico para o espaço de discussão que o DF proporciona e dissipar as metodologias, como o LUD, na sociedade,” expressa Fernanda.
Desde 2019 o Diálogo Florestal implementa um projeto nacional para promover a realização do LUD no Brasil e atualmente estão sendo realizadas edições em São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e no Centro de Endemismo Belém, na Amazônia. Outras iniciativas estão em planejamento no contexto do Fórum Florestal Paraná e Santa Catarina e para o Rio Grande do Sul.
Autora: Carolina Schäffer.