Aberto o Fórum Florestal do Rio de Janeiro
Cerca de cinquenta pessoas compareceram à primeira reunião do Fórum Florestal do Rio de Janeiro, realizada na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), na capital fluminense, semana passada. Iniciativa pioneira no estado, o fórum é um dos sete espaços de debate regional criados pelo Diálogo Florestal para a Mata Atlântica e o Pampa. Os fóruns regionais têm a missão de concretizar o cooperativismo entre entidades ambientalistas e o setor de base florestal para a proteção de remanescentes nativos e a restauração florestal no bioma Mata Atlântica.
Com apenas 30 mil hectares de plantios florestais, o Rio de Janeiro não produz madeira suficiente para suprir a demanda do estado, que importa mais de 90% do que consome. “O fórum fluminense é bem diferente dos outros fóruns regionais do Diálogo Florestal porque aqui a indústria de base florestal não está consolidada”, explica Beto Mesquita, diretor de Programas do IBio, que moderou o encontro. Beto também destacou a diversidade de participantes, entre os quais estavam representantes do poder público estadual, das indústrias de papel e celulose, cerâmica e silvicultura, proprietários rurais, estudantes e ambientalistas.
Ainda modesta, mas em pleno desenvolvimento, a silvicultura do estado do Rio de Janeiro pode se transformar em uma referência para a implantação de mosaicos de florestas plantadas e nativas. A expectativa se deve ao potencial de utilização da indústria de base florestal como instrumento de fomento à formação de corredores ecológicos entre os remanescentes florestais de Mata Atlântica.
Utilizadas para o deslocamento de espécies-chave para proteção da biodiversidade, as conexões entre fragmentos estão ajudando a salvar, por exemplo, os micos-leões-dourados que vivem na bacia hidrográfica do rio São João, nas baixadas litorâneas fluminenses. Em parceria com proprietários rurais, a Conservação Internacional e o Citigroup, a Associação Mico-Leão-Dourado (AMDL) pretende, até o ano 2025, consolidar uma área de 25 mil hectares para uma população de 2 mil micos-leões-dourados vivendo livremente em florestas protegidas e conectadas.
Presente no Fórum Florestal fluminense, Denise Rambaldi, secretária geral da AMDL, reforçou a necessidade de adoção imediata das diretrizes de fomento definidas pelo Fórum Nacional do Diálogo Florestal. Entre essas diretrizes, definidas consensualmente por ambientalistas e empresários, estão diversas condicionantes ambientais para empresas e proprietários rurais. (Para conhecer as Diretrizes Diálogo Florestal para Fomento, clique aqui.)
Para Antônio Salazar, coordenador do Grupo Executivo de Agroindústria do Sistema Firjan, o evento foi “um primeiro passo extremamente produtivo, com presença diversificada, no espírito do Diálogo Florestal”. Trabalhando com a indústria de base florestal desde 2002, Salazar sabe “que ainda existe muita desinformação no setor, e o fórum é uma forma de dar consistência às informações e criar comprometimento para que a atividade se desenvolva com o mínimo impacto”.
Para driblar a escassez de matéria-prima florestal, a Firjan está fomentando o debate sobre a expansão da silvicultura, em princípio, nas regiões Noroeste, Norte e Sul do estado. O sistema florestal irá alimentar a implantação e expansão das indústrias moveleira, de papel e celulose, siderúrgicas a carvão vegetal, serrarias e outras que dependem da matéria prima florestal.
Atentas à grande extensão de terras degradadas no Rio de Janeiro, empresas como a Aracruz Celulose estão intensificando sua atividade no estado. Carlos D’Alterio, analista de operações florestais da companhia para os 13 municípios do Noroeste fluminense, acredita que o fórum regional é “uma forma de se antecipar aos problemas ambientais e alavancar a silvicultura a partir do consenso entre meio ambiente desenvolvimento, indicando propostas para políticas públicas”.
O recado do setor foi dado diretamente para a diretora de Desenvolvimento e Controle Florestal do Instituto Estadual de Florestas, Dália Pais, que apresentou programas, projetos, planos e políticas para o desenvolvimento florestal no Rio de Janeiro. “Não há nada parecido com este espaço, que é fundamental para a gente ver os outros lados da questão florestal”, disse. “Tudo que é feito com colaboração tende a ser mais simples”, complementou Dália, que solicitou cooperação para solução de algumas pendências apresentadas por empreendedores.
Instigados pelo pioneirismo e pela missão do fórum, que é público, estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro compareceram em peso ao evento. “É uma oportunidade para tirar mais da visão de cada um, coisa que a gente não tem na faculdade”, diz Camila de Souza da Rocha, estudante do curso de engenharia florestal. Seu colega Gustavo Abaurre, insistiu na necessidade de reforçar o convite aos demais interessados que não compareceram ao evento. “Para construirmos o consenso, é preciso conhecer as diversas opiniões”, lembrou.
Organizado pelo Instituto BioAtlântica, pela Associação Profissional dos Engenheiros Florestais do Estado do Rio de Janeiro (Apeferj), pelo Elo Rio de Janeiro da Rede de ONGs da MAta Atlântica e pela Firjan, o Fórum Florestal do Rio de Janeiro volta a se reunir em outubro, na Firjan.