Conheça as iniciativas do Diálogo Florestal que promovem a conscientização e a colaboração para enfrentar os incêndios nas florestas brasileiras

out 5, 2024 | Notícias

A biodiversidade do Brasil é um patrimônio inestimável, cuja perda representa um retrocesso não apenas para o país, mas para o mundo inteiro. A luta contra as queimadas é uma batalha pela preservação dos recursos naturais e pela saúde do planeta. 

Há alguns anos, o Diálogo Florestal lidera iniciativas para reunir conhecimento e discutir possíveis soluções para os incêndios nas florestas brasileiras. Em 2021, o Diálogo Florestal Internacional (The Forests Dialogue – TFD), lançou um guia sobre como planejar, organizar e implementar iniciativas de diálogos com os stakeholders. No material, o TFD também apresenta estudos de caso que mostram resultados práticos e podem servir como modelo.  

No ano seguinte, em 2022, o TFD liderou dois encontros, coordenados pelo Diálogo Florestal do Brasil, para falar sobre o tema. Na ocasião, houve muitas trocas de experiências e os aprendizados foram incorporados ao Fórum Florestal de Incêndios do Congresso Florestal Mundial (WFC), liderado pelo TFD.

Com o objetivo de reunir experiências, conhecimentos e interesses para entender as mudanças na dinâmica do fogo e abordagens potenciais para lidar com os riscos crescentes de incêndio em todo o mundo, em 2022, o The Forests Dialogue (TFD) liderou uma série de mesas redondas realizadas no Sudeste Asiático, Austrália e América do Sul, que foram projetadas para trocar aprendizados e promover a colaboração dentro e entre as regiões.

O impacto social dos incêndios extremos é sentido em todo o mundo, inclusive por povos indígenas e comunidades dependentes da floresta, setores florestais, de turismo e muitos outros. No entanto, muitas partes interessadas que são impactadas ou contribuem para incêndios de grande escala raramente estão envolvidas no manejo do fogo.

Assim, no Brasil, o Diálogo Florestal organizou duas mesas redondas, uma para o contexto das plantações florestais e outra para a Amazônia, em conjunto com o Fórum Florestal da Amazônia.

O objetivo foi reunir experiências, conhecimentos e interesses para entender as mudanças na dinâmica do fogo e as abordagens potenciais para enfrentar os riscos crescentes de incêndio no contexto das plantações florestais no Brasil. 

Entre as estratégias bem-sucedidas que estão sendo usadas para combater os incêndios florestais, o debate com diferentes especialistas ressaltou: 

  • Monitoramento (com satélites, drones, helicópteros e aviões); 
  • Utilização da Fórmula de Monte Alegre Alterada (FMA+);
  • Campanhas de Prevenção contra Incêndios;
  • Blitzes verdes;
  • Zoneamento de risco de incêndio;
  • Operação de difusão de conhecimento e melhores práticas junto à comunidade (Operação Azumite);
  • Treinamentos;
  • Colaboração entre entidades públicas e privadas na prevenção e combate;
  • Construção e manutenção de aceiros. 

No entanto, ainda são necessárias práticas complementares para avançar na prevenção e enfrentamento aos incêndios. Entre as que foram levantadas, estão o estabelecimento de mosaicos de plantações florestais para proporcionar a quebra da continuidade do combustível; a formação de uma brigada nacional permanente, eventualmente, através de parceria público-privada; a elaboração de documentos informativos e técnicos, citando as melhores práticas globais de prevenção e conscientização; a elaboração de um plano nacional de capacitação, seguindo as melhores práticas internacionais, por exemplo US Forest, NWCG; o uso do Manejo Integrado de Fogo (MIF) – queimas prescritas como ferramenta efetiva de prevenção. 

O resumo completo do que foi discutido durante a Mesa Redonda Inciativa Fogo – Plantações Florestais, pode ser acessado no site do Diálogo Florestal. 

 

Ações na Amazônia

Na ocasião da Mesa Redonda Iniciativa Fogo e Florestas – Amazônia, foram levantadas as seguintes estratégias que já estão sendo utilizadas para combater os incêndios florestais na região: 

  • prevenção;
  • capacitação;
  • soluções tecnológicas;
  • envolvimento direto das comunidades e dos povos indígenas.

Além destas, foram levantadas outras que também se fazem necessárias para o enfrentamento do fogo e que condizem em colocar em prática mecanismos financeiros, políticas públicas, envolvimento comunitário e iniciativas locais, pesquisas, formações, cooperação e troca de experiências e recuperação pós-fogo. 

É possível acessar o resumo completo sobre o que foi debatido na Mesa Redonda da Amazônia pelo site do DF. 

Vale destacar a observação da coordenadora executiva nacional do Diálogo Florestal, Fernanda Rodrigues, quando alerta sobre os incêndios extremos, que em sua grande maioria têm origem humana, e devem ser vistos como um desafio que tende a se agravar no contexto das mudanças climáticas. “Urge a capacitação para o manejo integrado do fogo e a integração de esforços com recursos dedicados para a prevenção e controle”, observa Fernanda.

 

Cenário das queimadas em 2024

Atualmente, o mundo acompanha o Brasil enfrentar uma grave crise ambiental devido ao aumento das queimadas, especialmente na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. Esses incêndios, sejam naturais ou provocados por atividades humanas, representam uma ameaça significativa à biodiversidade, aos povos tradicionais e ao equilíbrio climático global. 

O médico veterinário, Jorge Luis Araújo Martins, especialista em animais silvestres e em biologia da conservação, com mestrado e doutorado na área de biotecnologia, reforça que cientistas, pesquisadores e autoridades têm conhecimento da crise climática que está em curso há mais de 20 anos.

Martins acompanha ativamente as questões relacionadas à proteção do Aquífero na região de Botucatu (SP), através do Instituto Itapoty, além de já ter trabalhado em projetos na Amazônia e na Mata Atlântica. “Há 20 anos eu estava na Amazônia e todos os problemas que nós estamos enfrentando hoje já estavam anunciados e levantados por estudos feitos pelo poder público”, observa. 

O profissional reflete que o poder público gera a informação, mas, se a utiliza para a tomada de decisão, faz de forma muito lenta, de uma maneira que não consegue mais reverter os efeitos do diagnóstico realizado. 

Em 2024, então, o cenário permanece alarmante em diversas regiões do Brasil e em outras regiões do globo, com áreas críticas sendo devastadas pelo fogo, trazendo à tona a urgente necessidade de ações coordenadas para conter esse problema.

 

Como combater as queimadas no Brasil

Considerando que o país poderia ter se preparado para o atual cenário, é preciso encarar que as queimadas no Brasil têm um impacto profundo e variado. Na Amazônia, por exemplo, essas ocorrências estão fortemente associadas ao desmatamento ilegal, à expansão da agropecuária e à grilagem de terras. Quando áreas são desmatadas, o solo se torna mais vulnerável ao fogo, o que intensifica a propagação das chamas. 

O Cerrado, conhecido como a savana mais biodiversa do planeta, também sofre com a pressão agropecuária, resultando em um aumento de incêndios que destroem áreas vitais para a fauna e flora locais.

O engenheiro florestal Jacinto Moreira de Lana  traz como exemplo a região leste de Minas Gerais, onde se tem um sistema de prevenção, detecção, controle e combate a incêndios muito bem estruturado. De acordo com ele, a situação na região está muito crítica, “ainda assim, estamos conseguindo minimizar muito o impacto por aqui, mas a vizinhança está em uma situação muito pior”, observa. 

Além dos danos diretos ao meio ambiente, as queimadas agravam crises de saúde pública, principalmente nas regiões próximas aos focos de incêndio. A fumaça liberada durante os incêndios – que se espalhou por todo o país nas últimas semanas – contém uma alta concentração de poluentes que afetam diretamente a qualidade do ar, aumentando casos de doenças respiratórias, especialmente em crianças e idosos.

As emissões de carbono também têm um papel crucial na intensificação das mudanças climáticas, já que grandes quantidades de CO₂ são liberadas, contribuindo para o aquecimento global.

 

Causas e fatores agravantes

Embora incêndios naturais possam ocorrer, a maioria das queimadas no Brasil tem origem humana. A prática do “fogo controlado” para abrir áreas para agricultura ou pecuária é uma das principais causas. O que pode acontecer, no entanto, é que tais incêndios saiam do controle e se alastrem por áreas de vegetação nativa. 

O enfraquecimento das políticas de fiscalização e a falta de punição eficaz para crimes ambientais também desempenham um papel importante na manutenção desse ciclo destrutivo.

Outro fator agravante é o aquecimento global. Com o aumento das temperaturas e a redução das chuvas em várias partes do país, as condições para que o fogo se espalhe de forma incontrolável se tornam cada vez mais favoráveis. Estudos recentes indicam que as regiões de floresta tropical podem estar se aproximando de um ponto de inflexão, no qual a degradação contínua e as queimadas podem tornar essas áreas irreversivelmente áridas.

 

Possíveis soluções à crise climática

É essencial perceber que a solução para essa crise ambiental deve ser multifacetada. Em primeiro lugar, é necessário fortalecer a fiscalização e aplicar penalidades mais severas para crimes ambientais. A restituição de políticas públicas voltadas para a proteção ambiental e o aumento do apoio a órgãos de defesa do meio ambiente são fundamentais para que a fiscalização seja efetiva.

O investimento em tecnologia e ciência também é crucial. O uso de imagens de satélite e monitoramento em tempo real podem ajudar a detectar queimadas e focos de incêndio antes que eles se espalhem. 

Projetos de restauração ecológica, especialmente em áreas mais vulneráveis, também são vitais para reconstruir ecossistemas danificados e criar barreiras naturais contra a propagação do fogo.

Outro ponto importante é a conscientização das populações locais. Comunidades rurais e indígenas, que muitas vezes dependem diretamente da terra, precisam ser envolvidas em programas de educação ambiental, aprendendo práticas sustentáveis que não envolvam o uso do fogo. 

 

O compromisso é coletivo!

É preciso considerar toda a história dessas comunidades, que está diretamente relacionada com o fogo. Por isso, apresentar novas possibilidades a elas de forma respeitosa e com diálogo pode torná-las importantes parceiras na preservação de áreas naturais, atuando como guardiãs do território. 

O cenário atual de queimadas no Brasil exige um esforço conjunto entre governo, sociedade civil, setor privado e comunidades locais. Apenas com um compromisso firme e coordenado será possível reverter os impactos devastadores dos incêndios e garantir a proteção de florestas. A equipe do Diálogo Florestal segue atenta para realizar ações que incentivem a proteção das pessoas e da floresta. 

Autora: Leticia Bombo e Fernanda Dorta (Eccoa Comunicação).

Autora: Fernanda Rodrigues.