Fórum RS lança cartilha sobre controle da dispersão do pinus
O Fórum Rio Grande do Sul do Diálogo Florestal lançou a cartilha “Controle da dispersão do pinus”, uma publicação direcionada a produtores rurais de regiões onde há problemas decorrentes da proliferação desordenada dessa espécie exótica. O lançamento ocorreu na Fazenda Taim, no município de Rio Grande, litoral sul do Rio Grande do Sul, e reuniu cerca de 50 pessoas, no dia 22 de agosto. O evento gerou uma discussão qualificada sobre a questão das invasões biológicas, a necessidade de ações de controle e as responsabilidades dos diferentes atores envolvidos.
Além dos integrantes permanentes do Fórum RS, contamos com a presença de representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)/Parque Nacional da Lagoa do Peixe, da Embrapa Florestas, da Estação Ecológica do Taim, da Emater dos municípios próximos, do Núcleo de Educação Ambiental em Rio Grande (Nema), da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor) e de secretarias municipais de Meio Ambiente e Agricultura da região.
A recepção aos visitantes foi organizada pelas empresas Flopal Florestadora Palmares e Âmbar Florestal (resinagem). O grupo se reuniu no balneário Cassino no começo da quarta-feira e partiu em comboio, deslocando-se por 40 quilômetros pelas areias da praia do Cassino, único acesso até a Fazenda Taim. Em uma casa de pinus abastecida com energia solar, usualmente utilizada para treinamento das equipes que trabalham na propriedade, Maurem Alves, representante da CMPC Celulose Riograndense, explicou sobre a dinâmica e os princípios do Diálogo Florestal. Depois, cada participante se apresentou ao grupo.
Cicerone do encontro, o diretor da Flopal, Paulo César Azevedo, relatou o início da introdução do pinus na região, nos anos 70, quando se pensava o componente vegetal como ferramenta para impedir o avanço das dunas e o soterramento de casas. Os incentivos fiscais do governo à época expandiram as plantações, parte delas sem controle. “Hoje, a atividade florestal representa uma grande oportunidade econômica para nossa região.” Paulo César informou que o controle da dispersão feito pela empresa algumas vezes enfrenta a resistência dos proprietários de áreas vizinhas, que avaliam as árvores que se desenvolvem em suas terras como uma oportunidade econômica. Tal visão é equivocada, segundo Paulo César: “Essas árvores de arquitetura espontânea não dão o almejado retorno econômico que muitos imaginavam. Elas são pequenas e com muitos galhos. Há grande expectativa e frustração de valor por essas áreas de dispersão”, disse.
Ainda segundo Paulo César, a frutificação do pinus ocorre a partir do sexto ou sétimo anos de vida da planta e cada indivíduo pode gerar 150 mil novas árvores por hectare. Por outro lado, a erradicação do pinus é tecnicamente simples. “O grande problema não é a dispersão a partir de talhões plantados, mas por árvores isoladas, que nasceram de sementes levadas pelo vento”, considerou.
Após essa intervenção, os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Júlio César de Lima e Kelly Corrêa fizeram uma apresentação sobre os projetos que desenvolvem na Fazenda Taim para medição de sequestro de carbono e avaliação da dispersão de sementes. Os pesquisadores distribuíram seis coletores de sementes em diferentes distâncias da borda da fazenda florestal, nos oito pontos da Rosa dos Ventos. Kelly disse que o trabalho vai gerar notícias surpreendentes, como a possibilidade de utilização do pinus como bioherbicida e fertilizante.
O chefe da Estação Ecológica do Taim, Henrique Ilha, e o representante do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Pablo Saldo, contaram suas experiências no controle da dispersão do pinus em unidades de conservação e no seu entorno, frisando a necessidade de realização de rescaldos após a primeira intervenção e as dificuldades de atuar nas pequenas e médias propriedades da zona de amortecimento.
O diretor do Nema , Kleber Grubel, defendeu a necessidade de restringir a atividade de silvicultura, especialmente com espécies com potencial invasor em determinadas regiões, em função do seu valor ambiental. Ele também ponderou que a escala das áreas plantadas deveria ser melhor regulada, justificando que a baixa capacidade técnica de alguns empreendedores individuais seria um empecilho para o correto manejo e prevenção da dispersão. O Nema foi formado em 1985, iniciando trabalhos de educação e monitoramento ambiental na região.
Todos os participantes tiveram oportunidade de falar. Houve manifestações, como as apresentadas pelo analista ambiental do Ibama Cristiano Souza, e da ambientalista Kathia Vasconcellos, representante do Instituto Augusto Carneiro, que destacaram a importância do clima de confiança conquistado e da possibilidade de apresentar ideias divergentes. E houve, ainda, diferentes falas relacionadas à importância do envolvimento de representantes de órgãos públicos no encontro, especialmente como potenciais parceiros na distribuição da cartilha Controle da dispersão do pinus, e provocações para a realização de outros eventos na região, dada sua importância ambiental e as interações existentes com a atividade de silvicultura.
Após um churrasco, o grupo fez uma visita de campo. O comboio seguiu até a borda da floresta de pinus da Flopal e pode observar que, em uma propriedade vizinha, o gado presente no local impede o processo de invasão na área de pastagem. Também foram visitadas as unidades coletoras de sementes instaladas pelos pesquisadores da UFRGS com o objetivo de avaliar o alcance e viabilidade das sementes.