Diálogo do Uso do Solo é realizado com sucesso em Atalanta
O Seminário Internacional Diálogo do Uso do Solo – Planejando Paisagens Sustentáveis no Alto Vale do Itajaí, realizado de 25 a 28 de abril de 2016, no Centro Ambiental Jardim das Florestas da Apremavi, em Atalanta (SC), reuniu mais de 40 participantes. Representantes de ONGs, agricultores, empresas privadas e públicas, governos locais, cooperativas e associações de produtores e universidades de diferentes países e de vários estados brasileiros e da região tiveram a oportunidade de debater a importância de se pensar na paisagem de forma integrada.
O evento é a primeira atividade de um projeto de iniciativa do Diálogo Florestal Internacional (The Forests Dialogue), do Diálogo Florestal Brasileiro e da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), com apoio da União Internacional para a Conservação da Natureza e do Profor-Banco Mundial, a ser realizado no Alto Vale do Itajaí. O seminário contou também com o apoio da Associação do Municípios do Alto Vale do Itajaí (Amavi), da Prefeitura Municipal de Atalanta e da Klabin.
O projeto pretende mobilizar os diversos setores que atuam na região e promover o diálogo e trocar experiências sobre uso sustentável do solo e da paisagem, conservação da biodiversidade e da água, conservação do solo, correlação entre produção agropecuária, silvicultura e ecossistemas, restauração de áreas frágeis ou degradadas, mitigação de riscos das mudanças climáticas e criação de mosaicos de áreas protegidas e corredores ecológicos.
Os participantes do evento visitaram e falaram com os produtores de propriedades rurais onde conheceram a realidade rural de Atalanta, conheceram também o Parque Natural Municipal Mata Atlântica, a empresa Scheller Madeiras, e as experiências de produção de mudas e restauração florestal da Apremavi, junto ao Centro Ambiental Jardim das Florestas.
Os resultados serão difundidos para outras regiões do Brasil e para outros países na América Latina, África e Asia.
E por que precisamos dialogar sobre uso do solo e planejamento de paisagens sustentáveis?
Em dezembro de 2015, todos os países do mundo aprovaram o acordo de Paris, e concordaram que as mudanças climáticas já estão em curso e precisam ser combatidas e esse é o maior desafio da humanidade. Como minimizar os efeitos dos eventos extremos cada vez mais frequentes como furacões, enchentes, tornados, secas, degelo das calotas polares e aumento do nível dos oceanos?
Outros problemas ambientais igualmente dramáticos são a perda da biodiversidade causada pelo desmatamento e pela captura e caça de animais silvestres, a escassez e diminuição da qualidade da água, necessária aos processos agrícolas, industriais, energéticos e de abastecimento público, a erosão dos solos e a desertificação.
Grupo durante visita de campo. Foto: Arquivo Apremavi.
Tudo isso está na paisagem e depende dela. Mas afinal, o que é uma Paisagem?
Paisagem é tudo o que nos cerca: a nossa casa, o quintal, a pastagem, a roça, os rios, os lagos, a floresta, o reflorestamento… Num olhar mais amplo é a vizinhança, a microbacia, o município, a bacia hidrográfica…incluindo as casas, as cidades, os rios, os lagos, as montanhas e as serras e até os mares.
Planejar paisagens sustentáveis começa em casa, no terreno de cada um…mas tem que levar em conta os vizinhos próximos e os não tão próximos, pois os rios, o ar, os animais silvestres e as sementes das plantas, ultrapassam as divisas dos imóveis, das microbacias, dos municípios e até dos estados e países.
Quando pensamos em paisagens sustentáveis e uso sustentável do solo temos que levar em conta tudo o que nos une. Todos precisamos de água limpa, ar puro, solo conservado. Todos gostamos de um ambiente agradável cheio de animais silvestres e pássaros cantando. Todos sofremos com os efeitos das mudanças climáticas, da perda da biodiversidade, do mau uso da água. Todos temos que cumprir as leis como o Código Florestal e a Lei da Mata Atlântica.
Por que precisamos prestar atenção à paisagem do Alto Vale do Itajaí?
No Alto Vale as frequentes enchentes são motivos que levam à necessidade de promover o uso sustentável do solo e da paisagem, e proteger e recuperar a Mata Atlântica. Os 28 municípios do Alto Vale do Itajaí tem 7.500 Km², onde vivem aproximadamente 250.000 pessoas. 58% moram nas cidades e 42% no meio rural.
A região tem 43 mil imóveis rurais, mais de 90% são propriedades com até 50 hectares, onde se destaca a agricultura familiar de arroz, milho, soja, fumo, cebola, hortaliças, a pecuária leiteira, a suinocultura e a piscicultura. Muitos imóveis rurais tem pequenas plantações florestais de pinus e eucalipto que complementam a renda e permitem a manutenção de indústrias madeireiras e outras atividades como é o caso da fumicultura.
Cerca de 40% da região é coberta por remanescentes de Mata Atlântica em diferentes estágios de regeneração, que protegem milhares de nascentes e riachos formadores do rio Itajaí-açu.
A região também abriga a Terra Indígena Ibirama onde vivem índios Xokleng, Kaingang e Guarani e algumas unidades de conservação Federais, Estaduais, municipais e particulares.
A erosão do solo e o lançamento de efluentes domésticos, dejetos animais e efluentes industriais não suficientemente tratados ainda afetam a qualidade das águas da bacia do rio Itajaí.
Para conservar a biodiversidade da região no longo prazo é necessário evitar o desmatamento e criar novos parques e reservas. É também fundamental restaurar as Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanente degradadas, para a formação de corredores ecológicos para a fauna e flora e manutenção dos serviços ambientais.
Uma importante contribuição vem da AMAVI, que criou e implantou um sistema de Cadastro Ambiental Rural, integrado ao SICAR Nacional do Ministério do Meio Ambiente. Através desse sistema, técnicos das prefeituras auxiliam os proprietários de terra a identificar e mapear as Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente dos imóveis rurais.
A titulo de exemplo, em Atalanta, praticamente 100% das propriedades rurais já foram mapeados e cadastrados no CAR. O cadastro é uma importante ferramenta para o planejamento das propriedades e da paisagem.
Um dos próximos passos na região será identificar um conjunto de propriedades que já adotam ou se disponham a implementar ações de uso sustentável do solo e da paisagem e que possam servir como fonte de difusão dessas boas práticas, tais como: cumprimento da legislação ambiental; proteção das nascentes e cursos d’água; respeito aos animais silvestres; controle da erosão e conservação do solo; embelezamento da propriedade com espécies ornamentais e frutíferas; e incremento da diversidade e produtiva agrícola.