Oportunidades econômicas da restauração florestal

ago 20, 2020 | Notícias

A restauração de áreas florestais pode se tornar um ativo econômico rentável e de impacto social? Com o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 a partir da assinatura do Acordo de Paris, o Brasil assumiu uma agenda que pretende unir recuperação ambiental e desenvolvimento econômico tendo como base a restauração florestal. O desafio está em assumir a restauração com  investimento, garantir a legalidade e gerar resultados econômicos e sociais.

Uma das ações necessárias é encarar a restauração como investimento. Isso passa, por exemplo, por entender os regionalismo onde esse trabalho será realizado, avaliar a cadeia de produtores, fornecedores e mercado envolvida, chegando às necessidades do mercado que serão atendidas com esses serviços ou produtos florestais. Somam-se a essas premissas a necessidade de um real engajamento das comunidades, das empresas do setor, do mercado e dos investidores – que podem estar dentro do país também.

Outro ponto-chave quando se discute a implementação de projetos de restauração é a legalidade. Isso passa, por exemplo, por fiscalização eficiente e transparente, além do acesso a uma fonte de dados confiáveis sobre restauração, manejo e produção florestal. A partir de políticas públicas claras, segurança jurídica para toda a cadeia produtiva e iniciativas que façam sentido para empresas, produtores e investidores é possível impulsionar os serviços ecossistêmicos associados ao capital natural brasileiro. É importante ter em mente que para ser atrativo, o pagamento por serviços ambientais precisa ser combinado com a rentabilidade do negócio. 

Quando a restauração efetivamente acontece uma grande questão é viabilizar a floresta em pé, gerando também benefícios econômicos. E as oportunidades para o Brasil nessa área são enormes. Muitos investidores têm optado por alocar recursos após analisar aspectos relacionados à ESG (sigla em inglês para meio ambiente, sociedade e governança).

Entre os mecanismos existentes no mercado para beneficiar financeiramente a restauração florestal estão os green bonds, ou títulos verdes. Em 2019, foram movimentados um bilhão e duzentos milhões de dólares em títulos verdes no Brasil.

Exemplos de projetos bem-sucedidos no Brasil já existem. A Klabin, por exemplo, empresa que integra o Conselho de Coordenação do Diálogo Florestal incluiu os produtores na cadeia de madeira certificada e passou a apoiar a certificação deles. Uma das ações foi a criação do projeto Matas Legais a partir da observação de que um dos impeditivos para a obtenção da certificação era a adequação ambiental das propriedades. A empresa emitiu recentemente os chamados green bonds.

Outras iniciativas pelo país também mostram que é possível sair do campo das ideias e colher resultados. É o caso do Programa Reflorestar, no Espírito Santo, que já destinou mais de R$ 60 milhões para produtores rurais que investem na recuperação da Mata Atlântica. Em Minas Gerais, o programa Extrema tem como enfoque a conservação e restauração de áreas de nascentes e mananciais. A partir dessa ação, o projeto foi expandido, por meio do programa Conservador da Mantiqueira, para municípios em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Já o projeto Verena, coordenado pelo WRI Brasil, analisa oportunidades de negócios de plantios de espécies arbóreas nativas e sistemas agroflorestais (SAFs), em formato puro ou consorciado com outras espécies, para criar um portfólio de modelos econômicos atrativos para investidores e produtores.

O Diálogo Florestal também é um agente que tem impulsionado as discussões e inciativas em torno desse tema, seja por meio da promoção de eventos técnicos, publicações de documentos e mediação de debates. Uma dessas iniciativas é o Diálogo do Uso do Solo, plataforma de participação de múltiplas partes interessadas, com o propósito de reunir conhecimento e liderar processos que influenciam negócios responsáveis, melhorem a governança de territórios e promovam o desenvolvimento inclusivo em paisagens relevantes. Realizado ao redor do mundo com liderança do The Forests Dialogue, no Brasil esse trabalho já foi iniciado na região do Centro de Endemismo Belém (CEB), que tem como objetivo  desenvolver maneiras de utilizar, sem destruir, o valioso capital natural, e inovar com atividades produtivas capazes de gerar emprego e renda para a população local; e no Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina, primeiro piloto da iniciativa em 2016. Um projeto nacional está em curso e até 2022 novas edições serão realizadas.

O engajamento cada vez maior de empresas, comunidades e sociedade indica que há um caminho possível e viável para conciliar restauração, legalidade e resultados econômicos e sociais. Esses foram algum dos temas abordados no podcast “Oportunidades econômicas da restauração de florestas” produzido pelo Diálogo Florestal a partir de live sobre este tema.

Autora: Fernanda Rodrigues.