Tese de doutorado aborda a relação entre diálogo e gestão florestal

mar 14, 2024 | Fórum Florestal Paulista, Notícias

Fórum Florestal Paulista, Diálogo Florestal e do The Forests Dialogue serviram como pano de  fundo para estudo sobre o que é o diálogo a partir da gestão florestal e como contribuir para que esta ferramenta seja utilizada como peça-chave para ajudar o planeta coletivamente

 

É provável que você já tenha entrado em contato com uma expressão parecida com essa: “comunicação é tudo!”. Mas, você teve a oportunidade de refletir sobre essa expressão? Te convidamos a um pensamento breve sobre o assunto: se a comunicação, de fato, é tudo, quando é que ela acontece? 

Para a comunicação acontecer é necessário que exista diálogo. Observe, no entanto, que o diálogo não necessariamente é uma conversa falada, mas sim uma troca de informações (falada, mimetizada, desenhada, cantada, escrita…) que vai fazer os interlocutores chegarem em algum ponto. Seja ele em comum ou não. 

Dessa forma, é possível entender que existam diferentes associações para a palavra diálogo. Foi a partir de um reflexão um pouco parecida com essa, mas misturada com vivências carregadas de pesquisas sobre pessoas e florestas, que a doutora Júlia Benfica Senra escreveu sua tese de doutorado, a “Entrenós: a dialógica como abordagem complexa para a gestão florestal”, na qual ela investiga – como o nome sugere – a relação entre o diálogo e a gestão florestal. 

A tese que concedeu o título de doutora para a Júlia, pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Centro de Energia Nuclear de Agricultura (ESALQ), da Universidade de São Paulo contou com a orientação do Prof. Dr. Marcos Sorrentino, e teve como objetivo geral contribuir para a construção de conhecimento sobre como o diálogo pode ser potente para a gestão de florestas que, por sua vez, são sistemas complexos e que se adaptam o tempo todo. 

Usando a escuta atenta para se aprofundar nas pesquisas, Julia descobriu o Diálogo Florestal (DF) e seus Fóruns, mais especificamente o Fórum Florestal Paulista (FFSP), bem como o The Forests Dialogue (TFD). Então, ela foi percebendo que o diálogo era uma ferramenta importante para as iniciativas que buscam articular ações em busca do bem comum, dentro do cenário das iniciativas florestais. 

A partir daí, o DF entrou de vez na tese de Julia e, não por acaso, os objetivos específicos da pesquisa buscavam entender o que é diálogo para o FF Paulista, quais as oportunidades e os obstáculos para que o diálogo ocorra no Fórum, compreender como funcionam o DF e o TFD e sugerir uma abordagem dialógica que pudessem guiar os processos de gestão florestal. 

De acordo com Mônica Fragoso, Secretária Executiva do FFSP, a participação do Fórum na tese da Julia foi importante para esclarecer e, ao mesmo tempo, alertar para aspectos essenciais em relação ao que se espera do papel dialógico do Fórum e o quanto de desafios ele pode enfrentar. Na sua percepção, a autora, em suas discussões, chama atenção para a reflexão feita na relação “diálogo versus esforços de compartilhamento de informações e planejamento”, sobre a qual pontua que a possibilidade de um diálogo enfraquecido, em função do próprio empenho nas ações de engajamento com objetivo de se conseguir melhores resultados, pode comprometer uma importante etapa, a de prescrição de normativas de como agir.

Fernanda Rodrigues, coordenadora executiva nacional do Diálogo Florestal, que também participou da defesa de tese de Julia, destaca que os pontos que mais lhe marcaram foi a reflexão trazida pela autora sobre a suspensão de pressupostos como fundamental para a existir um verdadeiro diálogo, sendo a prerrogativa para a existência de um diálogo a abertura e disposição das partes, sem obrigações nem garantias. “Esta categoria de diálogo chamada dialógica (não monológica nem técnica) cria o ambiente para o engajamento”, observa.  

Julia, por sua vez, conta que tanto o Diálogo Florestal quanto o Fórum Florestal Paulista foram descobertas muito importantes para trazer um espelho da realidade para o projeto.  “Principalmente o Fórum Florestal Paulista, que foi o estudo de caso da pesquisa, que é sobre a relação entre diálogo e gestão florestal”, observa a doutora. 

Ela reforça, inclusive, falando da relação entre realidade e teoria. “Acho muito importante, essencial, até, sempre ter uma relação entre realidade e teoria e eles mostram uma existência real que, de alguma maneira, estão utilizando a palavra diálogo, pensando sobre isso, então eles são “esse outro” de que falo na tese, importante para mostrar os limites, os conflitos e as realidades”, finaliza.  

Ao destacar a importância das florestas para a constituição do planeta, e do diálogo para as iniciativas da vida, mas olhando especificamente para as de gestão florestal, Julia reforça que bem, se a comunicação não for tudo, ela é uma parte essencial para que as pessoas se entendam a partir da ferramenta do diálogo e, juntas, possam trabalhar para o coletivo de forma a ajudar uns aos outros e ao planeta.

Além de questões práticas e científicas, Julia permeia toda a sua tese com a arte das palavras e sugere que a dialógica pode ser uma abordagem complexa para a gestão florestal, ainda que o setor florestal seja um dos melhores setores em termos de diálogo. A leitura da tese na íntegra está disponível em PDF pelo site da USP.

Autora: Leticia Bombo | Eccoa Comunicação.

Edição: Fernanda Rodrigues.